sexta-feira, 1 de maio de 2009

Coluni de Viçosa é a melhor escola pública do país

Diretora Eunice Bohnenberger conta com orgulho como chegou ao 1º lugar


Ali, os portões não conhecem cadeados, não há inspetor para controlar o entra-e-sai dos adolescentes e os uniformes ficaram no passado, bem guardados no armário. Com tamanha liberdade, qualquer pessoa pensaria que nessa escola, onde os alunos não pagam mensalidade, as salas de aula estariam vazias. Ledo engano. Essa independência é justamente um dos pontos destacados pela direção do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa (Coluni), a 85km de Senhora de Oliveira, para justificar a classificação da instituição no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2008 como o melhor colégio público do Brasil, pela segunda vez consecutiva.



Com 76,6 pontos, o Coluni, além de ter abocanhado o primeiro lugar da rede pública de ensino pelo exame aplicado pelo Ministério da Educação (MEC), ficou em 3º lugar no ranking dos melhores colégios do Brasil, disputando até com as particulares. “Desde 2004 ficamos nas primeiras posições. No ano passado, no Enem de 2007, também ganhamos a liderança”, orgulha-se a diretora do Coluni, Eunice Bittencourt Deohnenberger, que comemora a classificação deste ano. “Estamos nos superando”, aposta.



O segredo do sucesso é revelado por Eunice com entusiasmo. “O colégio está localizado dentro do câmpus da universidade, há toda estrutura para nossos alunos, como grandes acervos de livros e laboratórios. Além disso, nos preocupamos com a qualificação dos nossos professores – temos mestres e doutores”, destaca. Ela enfatiza ainda que um dos pontos que mantêm a qualidade do ensino é o fato de que, para ingressar na instituição, voltada para o ensino médio, o estudante passa por processo de seleção.



Mas não é só isso. Diferentemente de muitas escolas públicas, o professor no Coluni tem dedicação exclusiva e ganha entre R$ 2 mil e R$ 5 mil. “Ele não pode trabalhar em outra instituição, somente aqui”, avisa Eunice, elogiando o ambiente dos educadores. “O professor tem o próprio gabinete, onde tem livros à disposição e pode elaborar seu plano de aula com tranquilidade. A vida dele é a mesma daquele que dá aula para estudantes da graduação”, garante.



Com os portões escancarados, sem ao menos um porteiro para tomar conta dos alunos, o Coluni, segundo afirma a diretora, praticamente não tem problema com indisciplinas. “Eles têm total liberdade, mas são responsáveis. A nossa organização confere a eles uma independência e autonomia muito grande, o que, diferentemente do que se pensa, faz com que eles tenham ritmo de estudo. Principalmente porque estão inserido em um clima acadêmico”, observa.



O aluno do 3º ano do ensino médio Wander Fernandes Ribeiro Filho, de 17 anos, diz que a escola é muito boa. “Aqui, fazem a gente estudar e ter responsabilidades. Todos os alunos do Coluni enfrentaram o vestibular com facilidade. Conheço estudantes que, quando chegaram à faculdade, acharam até fácil, comparando com o ensino daqui”, conta Wander, que acredita que o fato de os professores serem exclusivos é um ponto forte na qualidade do colégio. “A gente estuda de manhã, mas à tarde, quando precisamos, o professor está à disposição para tirar dúvidas. Muitos até viram nossos amigos”, diverte-se, revelando que aposta que vai passar, no fim do ano, no vestibular em veterinária na UFV. “Me sinto preparado.”



Não há dúvidas de que o Coluni seja uma instituição exigente com os alunos. Eunice enche o peito para contar que os estudantes do 2º ano estão aprendendo, nas aulas de biologia, sobre os vários tipos de vírus. “Para reforçar ainda mais o processo, eles estão lendo artigos da área em inglês. É uma leitura de publicações, em que os textos são geniais para o conhecimento e aprendizado. Além disso, estão estudando a língua estrangeira”, diz.



Exigência é diferencial



Para Victor Pimentel de Matos, 17, é essa exigência que faz a diferença. Ele, que hoje não está mais no Coluni, responsabiliza o colégio por seu sucesso nos vestibulares. No ano passado, o jovem foi um dos alunos que responderam às questões do Enem, acertando nada menos do que 89% da prova. No último vestibular foi ainda melhor: conseguiu aprovação em medicina na Universidade Federal de São João del-Rei, em Governador Valadares, no Rio de Janeiro e na Universidade Estadual de Campinas, mas escolheu a Universidade Federal de Minas Gerais para estudar, mesmo depois de ter passado em primeiro lugar em engenharia mecânica na Universidade Federal de Goiás. “Ao meu bom desempenho atribuo o ritmo puxado do Coluni e a boa infraestrutura oferecida. Ali, crescemos e aprendemos muito”, afirma. Na opinião da diretora Eunice escolas como a Coluni são mesmo exceção. “Se compararmos com o ranking do Enem 2008, só haverá colégio público entre os melhores na 14ª posição. Infelizmente, não há investimentos na estrutura da escola pública no país. Como se exigem bons resultados se não há recursos para isso?”, questiona.



Fonte: Uai

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